Exerço a cerca de trinta anos a profissão de educadora. Por
minhas ideias e ideais muitas mentes estiveram por cultivar ao que chamo de
valores; e não se faz necessário que sejam muitos, desde que a sobriedade, a
sinceridade, a auto crítica, o desejo de servir e ouvir estejam presentes.
Mas, o tempo decorre, e é lastimável observar que tudo o que
preguei está sendo sucateado de maneira abominável. É duro ver e crer que os
responsáveis direto pela formação do País - tão desgraçado, e esmigalhado – são
os principais algozes diante do que deverei nomear como princípios. Em verdade,
a formação escolar é hoje um meio comercial de subsistência, onde os donos (em
sua maioria) sequer estão envolvidos com o processo pedagógico, mas com a
fatura mensal que verterá em lucro direto para rechear a sua vil imagem,
encoberta pela flácida e nada sugestiva maneira de conduzir aos professores, os
quais tentam sobreviver diante da “esmola” mensal que lhes é concedida.
E, nessa ciranda
desordenada, alguns buscam se sobressair através de didáticas inusitadas, que
vão desde a excelência das suas aulas eivadas de conhecimento e dinamismo, aos
que revoltados e sem esperança de que sejam notados, recorrem as reprovações em
massa, como forma de aterrorizar aos alunos, os quais acuados, nada lhe resta
senão o silêncio, o medo do que lhes é pronunciado.
E assim seguimos em busca do nada, oferecendo o vazio como
proposta de futuro, pois se não há respeito ao professor o que haveremos de
encontrar? Determinar aos estudantes que sejam polidos e acreditem em
instituições de ensino que sequer lhes oferece credibilidade, que expõem aos
seus mestres como se fossem marionetes sem vida, sem respeito?
O que esperar se a juventude comprovadamente não mais tenta, devido
a total desvalorização, sequer como opção final, tornar-se professor?
É bem verdade que as escolas, cujo foco é conduzir o aluno ao
aprendizado, e valorizar ao profissional, percebem a dificuldade para conseguir
um bom professor, visto que, rapidamente preenchem a sua carga horária.
Os mais jovens chegam temporariamente, e veem como um “bico”
enquanto não fazem o mestrado, porque não querem fazer dessa a sua profissão
onde hoje, numa escola particular, o piso salarial não chega a R$ 5,00 por
hora/aula e as mensalidades são exorbitantes. Assim, podemos afirmar que a
carreira não é sustentável.
O pedagogo não está comprometido somente com o ensino, mas
também com a justiça, com a inclusão social, e na formação de profissionais
capacitados e atualizados.
Atribuo - sem dúvidas –essa
onda incessante que invade a esse circo de horrores e temores em exercer a um
trabalho tão humanizado, a
falta de suporte adequado nas escolas, a falta de amor ao próximo / a violência,
a ausência da família, a falta de recursos materiais, ao desgaste emocional que
o ser humano vive numa corrida desenfreada para alcançar o inatingível, e
sobretudo, ao “esquecimento” de que existe, sim, um SER SUPERIOR, e que não
estamos no universo como folhas secas arremessadas pelo vento.
Essa certamente é a razão de um povo cercado de protestos, de
fome, de misérias, de violências, de lideranças, de lágrimas. Mas, ainda guardo
em minhas lembranças a certeza de que soprei forte em muitos ouvidos, e muitos
ecos são percebidos, porém pouco escutados; se não posso remover a montanha,
certamente continuarei a buscar atalhos para prosseguir em meu caminho.
Um dia, com certeza, esses atalhos serão mais largos, terão
mais espaços, conseguiram abrir novas fronteiras, e comprovadamente a
experiência adquirida fortalecerá para que um bandido ou um herói faça valer o
quanto é valiosa a presença do professor em nossa vida.
Não podemos calar nem chorar, não podemos gemer nem implorar,
não podemos desistir nem impedir porque MESTRE é todo aquele que acredita ser
um instrumento transmissor da EDUCAÇÃO, e não existe nem existirá – nunca! -
uma vacina capaz de calar o pensamento humano.