Nem imagino e nem tenho
sabedoria o bastante para sequer compreender, o que é vivenciar quase um século,
diante de uma humanidade a cada dia mais distante do verdadeiro ser.
Creio mesmo que ultrapassar
a barreira do som, transpor aos mistérios do universo, e tantas outras fronteiras
ditas como intransponíveis é muito menos do que ter nascido no início do século
XX, e vivenciar lucidamente as loucuras do século XXI.
Sim, ver, sentir, ouvir
e compreender e nada poder mudar ou ao menos tentar readaptar é uma das tarefas
mais difíceis para quem observa com o olhar de lince, e perspicácia de uma
águia, aos encantos e desencantos das épocas.
Imaginar-se no planeta
dito como o seu, e não ter diante de si mais nada do que viu desfilar da sua
aguçada retina: pais, parentes e amigos que há muito seguirão em direção ao
universo contemplado, costumes, hábitos, músicas, e a tão temida tecnologia
avançada com efeitos em 3D, tornam-se quase que conto de fadas, ou histórias
que desabrocharam de um livro cujas páginas são escritas com a verdadeira
narrativa da vida.
E a velhice tão cantada
em versos, apenas desafia a linha melódica, pois a rima é triste e dolorida
como tudo o que é oferecido aos nossos idosos. E, falar desse assunto é
bastante triste e doloroso, uma vez que para reagir contra o estigma e à
discriminação dos idosos, por exemplo, se faz necessária uma abordagem em
diversos aspectos.
As correrias do dia a
dia, as mudanças constantes de paradigma conduziram o homem a agir
irracionalmente, e esquecer-se dos valores ancestrais. Num contexto onde tudo
se dissolve, tudo se apaga, são deletados todas as situações que não oferecem
algo em troca, que possa garantir o “lucro”... E o idoso-para esse mundo irracional
– é prejuízo!
E anestesiados pela dor da solidão, do
abandono, os nossos velhinhos aguardam o dia da partida cultivando as suas
frustrações, as suas dores, as suas lágrimas contidas nesse recorte de tempo em
que ciclos abrem e se fecham, todavia não conseguem trancar ao coração que pulsa
na esperança de um simples aperto de mão.