Descubro aos poucos o quanto o tempo passa, que já não tenho
os mesmos sonhos, e sequer os mesmos sentimentos. Percebo que ao invés de me
sentir preenchida, tenho medo do vazio que inunda ao meu ser.
Hoje, tenho medo das pessoas e também nelas não confio, e nem
acredito no amor (bobagem seria dizer verdadeiro amor, porque se amor fosse, o
real seria verdadeiro). Vejo em minha
volta e ao menos me sinto um pouco assegurada porque busquei proteger a minha
velhice com o que plantei com muitas dores quando jovem. Lutei para possuir uma
casa, e por mais simples que fosse, saberia que era um teto e nele estaria
coberta; lutei incansavelmente para que não apedrejassem a minha memória e
deixassem que eu pudesse percorrer as linhas tortas e sinuosas que a vida nos
propõe com dignidade.
Escrevi um livro, plantei uma árvore e tive filhos ... O
livro me oferta sonhos intermináveis, e o desejo de transpor a barreira no
inimaginável; a árvore cresceu e faz sombra diante dos meus pensamentos,
ofertando com suas folhas a brisa do vento a acariciar o meu rosto sofrido e
cansado. Os filhos! Ah os filhos! Lutei para que se tornassem adultos alfabetizados,
que soubessem o valor de um grão de feijão, e sobretudo que tivessem temor a um
Ser Superior, pois. Nele criei a minha fé, e dela indiscutivelmente não me
afasto. Mas, o tempo escravizou me diante dos infortúnios, das mentiras e do
poder; Tornei – me frágil e insegura, temerosa e tristonha diante do que penso
que errei, pois construí.
E o livro pede que não lhe abandone e escreva novas memórias,
que acrescente novas estações, que preencha as muitas e muitas páginas que
ainda poderão ser escritas. Sussurra que ainda não estamos no capítulo final´.
A árvore busca me convencer de que poderei ter abrigo em sua
sombra que não me assombra, que deverei olhar firme o horizonte e acreditar que
nada é finito.
Olho em volta, e debruço – me em lágrimas aflorando
saltitante em meus olhos, como se pedissem permissão para um novo olhar. Sei
que tudo se perde, mas tudo se cria, se renova, e reverte.
E, como se a roda gigante da vida girasse velozmente, sinto
quanto preciso viver, preciso de amparo, de carinho, de ao menos uma razão para
crer .... A vida é como uma grande roda, e darei a volta inteira, todavia haverá um momento em que poderei observar que muitos outros nela vão girar.
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